Professores!
A minha profissão, aquela que abracei convicta do trabalho,
dos desafios e das horas extras (muitas) que lhe ofereceria se quisesse fazer
um trabalho que envolvesse e resultasse, ainda que minimamente nalguns casos,
para todos os meus alunos.
Já lá vão 26 anos e nunca ninguém me leu uma palavra de
queixume, revolta ou o que quer que seja, nas redes sociais. A minha luta é
outra e noutros locais! No entanto, há sempre uma primeira vez! Hoje, ao ler
esta notícia, não resisti à caneta e, da caneta até aqui, foi um saltinho.
Foram tantos anos a ouvir que eu era uma privilegiada e,
afinal, a profissão com privilégios acima da média e que incomoda muita gente,
poucos a querem ou nenhuns (a bem dizer). O que vale é que o tempo, esse
conselheiro magnífico, vai sempre repondo cada coisa no seu devido lugar.
Tantos e tantos conhecidos meus, ao longo destes anos, tentaram encetar
conversas acerca desta profissão com horários, férias, regalias e salários
extraordinários... tantos e tantos cidadãos desconhecidos destilaram veneno e
continuam a proferir comentários grosseiros e infundados em tudo o que seja
post ou página sobre o assunto... E falo dos conhecidos e desconhecidos, porque
os amigos (aqueles que fazem jus à verdadeira aceção da palavra) conhecem bem a
realidade e sabem bem do que a casa gasta...
Nos primeiros anos, ainda tentava argumentar e explicar as
imensas facetas/tarefas/dimensões subjacentes a esta profissão (atualmente, são
muitas mais e as “mãos” escasseiam para tanta medida)... depois, percebi que
estava “a bater no ceguinho” em vão e deixei-me disso, era a primeira a
concordar com eles. Assunto arrumado!
Mas a vida é engraçada. Muitos deles viram irmãos, amigos e
familiares queridos seguirem esta profissão. Outros, muitos deles oriundos
daqueles que mais “assobiavam” casaram ou (re)fizeram as suas vidas com
professores e o discurso, claro está, com o decorrer dos anos, passou a ser
diferente! Nada como calçar os sapatos do outro.
Agora já dizem: o meu horário é flexível desde que cumpra;
faço muitas horas mas são pagas; trabalho ao fim de semana mas sou remunerado
por isso; tenho de estar disponível mas reconhecem; vou a uma reunião ou
formação mas as despesas são pagas; e fico-me por aqui, teria muitos exemplos
para acrescentar... E sim, concordo! É assim que deve ser! Quando prestamos
serviços à nossa entidade patronal, esta deve saber reconhecer e retribuir na
mesma proporção.
O professor, no seu dia a dia também faz isso tudo: está
disponível 16h por dia (alturas há em que é bem mais); trabalha todos os dias
em casa para a sua profissão, inclusive fins de semana; faz formação contínua;
vai trabalhar para longe da sua residência; mas fá-lo com o seu salário base
que, ainda por cima, viu emagrecer consideravelmente de 2006 a esta parte e, a
partir daí, a sua carreira foi para o brejo. Dizer que é reconhecido por isto
ou por aquilo é algo que um professor não pode dizer, infelizmente!
Neste momento, pode dizer-se que quem está nesta profissão
ou o faz por GOSTO ou então... ...
Só que o GOSTO, quando a balança está sempre em
desequilíbrio para o mesmo lado, satura e vai causando mossas aqui e acolá.
É pena que a EDUCAÇÃO esteja a ser tratada assim, com todo
este desmerecimento! O terreno
é árido, mas desistir também não é solução.
Feliz dia do professor na esperança de dias melhores e mais
auspiciosos! 🙏
Cristina Martins (docente no Agrupamento de Coronado e Castro)
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