O que nos move?
Procuramos o quê?
Buscamos o que queremos?
Um texto maravilhoso de Bertrand Russell, um
dos mais influentes matemáticos, filósofos, ensaístas, historiadores e lógicos
que viveram no século XX.
“Três paixões, simples, mas
irresistivelmente fortes, governaram minha vida: o anseio pelo amor, a busca
pelo conhecimento e uma dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Essas
paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso, instável, por sobre o profundo oceano
de angústia, chegando às raias do desespero.
Busquei o amor, primeiro, porque ele produz
êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da
minha vida por umas poucas horas dessa alegria. O busquei, ainda, porque o amor
nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual nossa trêmula perceção
observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e sem vida. Busquei-o, finalmente, porque vi na união do
amor, numa miniatura mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os
poetas imaginavam. Isso foi o
que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana, foi
isso que – afinal – encontrei.
Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu
queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por que cintilam as
estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece
acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu alcancei.
Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, me levaram para o alto, rumo aos céus. Mas a piedade sempre me trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressore
s, velhos desvalidos a construir um fardo para seus filhos, e todo o mundo da solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por afastar o mal, mas não posso, e também sofro.
Eis o
que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom
grado, tornaria a vivê-la, se me fosse dada tal oportunidade.”
Bertrand Russell (1872-1970), no prólogo da sua
autobiografia, "What I have lived for"
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