sábado, 2 de abril de 2022

DESAFIO - "Um Poema por dia nem sabe o bem que lhe fazia!"

 DIA 13

António Gedeão



Lição sobre a água

Este líquido é água.

Quando pura

é inodora, insípida e incolor.

Reduzida a vapor,

sob tensão e a alta temperatura,

move os êmbolos das máquinas que, por isso,

se denominam máquinas de vapor.

 

É um bom dissolvente.

Embora com exceções mas de um modo geral,

dissolve tudo bem, ácidos, base e sais.

Congela a zero graus centesimais

e ferve a 100, quando à pressão normal.

 

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,

sob um luar gomoso e branco de camélia,

apareceu a boiar o cadáver de Ofélia

com um nenúfar na mão.

 

Poema de ser ou não ser

São ondas ou corpúsculos?

Sim ou não?

São uma ou outra coisa, ou serão ambas?

São "ou" ou serão "e"?

Ou tudo se passa como se?

Percorrem velozmente órbitas certas

as quais existem só quando as percorrem.

Velozmente. Será?

Ou talvez não se movam, o que depende

do estado em que se encontre quem observa.

Assim prosseguem rotineira marcha

na paz podre do tempo.

Oh! O tempo!

Até que, de repente,

por exigências igualmente certas,

num sobressalto histérico,

saltam da certa órbita

e vão fazer o mesmo noutra certa

tão certa como a outra.

E assim prosseguem

na paz podre do tempo.

Eis senão quando,

como

pedra num charco ou estrela que deflagra,

irrompem no vazio,

e o vazio perturbado afunda-se e alteia-se

e em esferas sucessivas, pressurosas,

vão alagando o espaço próximo

depois o mais distante,

e seguem sempre, sempre, avante, sempre avante,

em quantas direções se lhe apresentam.

Sim, ou não?

Estou à janela

e vejo muito ao longe a linha do horizonte.

Ser ou não ser?

Eis a questão.

 

Fala do Homem Nascido

(Chega à boca da cena, e diz:)

 

Venho da terra assombrada,

do ventre de minha mãe;

não pretendo roubar nada

nem fazer mal a ninguém.

 

Só quero o que me é devido

por me trazerem aqui,

que eu nem sequer fui ouvido

no acto de que nasci.

 

Trago boca para comer

e olhos para desejar.

Com licença, quero passar,

tenho pressa de viver.

Com licença! Com licença!

Que a vida é água a correr.

Venho do fundo do tempo;

não tenho tempo a perder.

 

Minha barca aparelhada

solta o pano rumo ao norte;

meu desejo é passaporte

para a fronteira fechada.

Não há ventos que não prestem

nem marés que não convenham,

nem forças que me molestem,

correntes que me detenham.

 

Quero eu e a Natureza,

que a Natureza sou eu,

e as forças da Natureza

nunca ninguém as venceu.

 

Com licença! Com licença!

Que a barca se fez ao mar.

Não há poder que me vença.

Mesmo morto hei-de passar.

Com licença! Com licença!

Com rumo à estrela polar.



 

sexta-feira, 1 de abril de 2022

DESAFIO - "Um Poema por dia nem sabe o bem que lhe fazia!"

 

DIA 12


Escolhido por Nádia Ribeiro



Poesia matemática

"Às folhas tantas do livro de matemática,

um quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a, do ápice à base.

Uma figura ímpar olhos rombóides, boca trapezóide,

corpo ortogonal, seios esferóides. Fez da sua uma vida paralela a dela até que se

encontraram no infinito.

"Quem és tu?" - indagou ele com ânsia radical.

"Eu sou a soma dos quadrados dos catetos,

mas pode me chamar de hipotenusa".

E de falarem descobriram que eram o que, em aritmética,

corresponde a almas irmãs, primos entre-si.

E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz

numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas,

curvas, círculos e linhas senoidais.

Nos jardins da quarta dimensão,

escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas

e os exegetas do universo finito.

Romperam convenções Newtonianas e Pitagóricas e, enfim,

resolveram se casar, constituir um lar mais que um lar,

uma perpendicular.

Convidaram os padrinhos:

o poliedro e a bissetriz, e fizeram os planos, equações e diagramas para o futuro,

sonhando com uma felicidade integral e diferencial.

E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos

e foram felizes até aquele dia em que tudo, afinal, vira monotonia.

Foi então que surgiu o máximo divisor comum,

frequentador de círculos concêntricos viciosos,

ofereceu-lhe,

a ela, uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum.

Ele, quociente percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.

Era o triângulo tanto chamado amoroso desse problema,

ele era a fração mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade

e tudo que era espúrio passou a ser moralidade,

como, aliás, em qualquer Sociedade ..."

Millôr Fernandes


Novais Neto - Matemática ultra-romântica - Declamação de João Dacosta



quinta-feira, 31 de março de 2022

DESAFIO - "Um Poema por dia nem sabe o bem que lhe fazia!"

 DIA 11


Poema, em chinês, partilhado pelo aluno Nuno Zheng do 9.ºC em que o poeta fala das saudades que sentia da sua terra natal...



Em francês, uma sugestão da aluna Leonor Ferreira 


Ainda em francês... partilha do aluno Tiago Teixeira do 9.ºC...




 Continuamos com uma sugestão na língua francesa, com este poema partilhado pela aluna Mónica Queirós.

quarta-feira, 30 de março de 2022

terça-feira, 29 de março de 2022

DESAFIO - "Um Poema por dia nem sabe o bem que lhe fazia!"

 Dia 9



"Sei que não vou por aí" de José Régio | Diogo Infante




"Poema em linha reta" e "Tabacaria de Fernando Pessoa interpretado pela professora Cleonice Berardinelli e a cantora Maria Bethânia.  



sábado, 26 de março de 2022

DESAFIO - "Um Poema por dia nem sabe o bem que lhe fazia!"

 Dia 6


                                                       Ser Poeta - Trovante (Florbela Espanca)              


            Ser Poeta | Poema de Florbela Espanca com narração de Mundo Dos Poemas



sexta-feira, 25 de março de 2022

DESAFIO - "Um Poema por dia nem sabe o bem que lhe fazia!"

 Dia 5


A paz

Quando sentimos paz

pensamos numa cor calma

Como o branco ou o verde

quem sabe...


Por vezes com a paz

sentimos um sabor, que nos vem à cabeça

que nos leva a perguntar

mas que sabor delicado é este?


Sentimos paz

Podemos cheirar

um odor que vem no ar

que não dá para explicar


Com a paz

sentimos uma tempestade fresca

não muito fresca

é aquela brisa de fim de tarde que passa por nós


O som da paz

é de uma cascata a cair no meio de uma floresta, com os pássaros a cantar e a chilrear, com o vento a assobiar


O movimento da paz

é um movimento delicado

que nem dá para perceber

de tão delicado que é


O peso da paz 

é leve como uma pena a cair 

lentamente

e que é levada pelo vento


Agora, o que eu sinto com a paz 

leva-me a pensar e a perguntar

se fiz tudo bem ou algo de mal...

E sinto-me capaz e nunca incapaz

e não olho para trás!

Autor: João Moreira 6ºB1

Mara Lopes


DESAFIO - "Um Poema por dia nem sabe o bem que lhe fazia!"

 Dia 4


Afonso Pinheiro 9ºC

Érica Reis 9ºC1


Filipa Rocha 9ºC1


Martin Araújo 9ºB1