DIA 19
PÁSCOA
Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.
Miguel Torga, in Diário XVI
PÁSCOA NA ALDEIA
Minha aldeia na Páscoa…
Infância, mês de Abril!
Manhã primaveril!
A velha igreja.
Entre as árvores alveja,
Alegre e rumorosa
De povo, luzes, flores…
E, na penumbra dos altares cor-de-rosa .
Rasgados pelo sol os negros véus.
Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores.
Ressurreição de Deus! (…)
Em pleno azul, erguida
Entre a verde folhagem das uveiras.
Rebrilha a cruz de prata florescida…
Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal.
Ébrias de cor, tremulam as bandeiras…
Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
Ei-lo que entra contente nos casais;
E, com amor, visita as rústicas choupanas.
É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
As grandes alegrias sobre-humanas.
Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
Linda manhã, canções de passarinhos!
A campainha toca: Aleluia! Aleluia! (…)
Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus.
E mães, acalentando os filhos no regaço.
Esperam o COMPASSO…
E, ajoelhando com séria devoção.
Beijam os pés da Cruz.
Teixeira de Pascoaes
QUEM
Não sei como se ressuscita
no terceiro dia
de cada sílaba
nem se há palavra para voltar
do grande rio do
esquecimento.
Não sei se no terceiro dia
alguém me espera. Ou se
ninguém.
Em cada poema levanto a pedra
em cada poema pergunto quem.
Manuel Alegre
Sem comentários:
Enviar um comentário